A Inteligência Artificial irá substituir os artistas?

Um papo com Kuêio sobre ‘coelhos’, Inteligência Artificial no mundo da arte e a diferença entre mural e graffiti.

Por Patrícia Mamede

Nascido e criado na Zona Norte de São Paulo, como um artista nato, Kauê Fidelis começou a fazer graffiti desde muito cedo, aos doze anos. Passou a maior parte de sua infância copiando as artes que gostava e desenhando ‘bichinhos’. Certa vez, com a autorização do diretor da escola onde estudava, pintou uma das paredes da instituição e um de seus colegas, Rogério, viu a arte e lhe perguntou, ‘’você faz graffiti?’’. Kauê não entendeu a pergunta, pois ainda não havia sido apresentado a este mundo. Até que seu amigo lhe explicou e sugeriu que começassem a criar juntos.

Rogério pediu à Kuêio para ver alguns de seus desenhos, e ele disse que havia esquecido sua pasta em casa, mas que tinha desenhado um coelho naquele mesmo dia e que, portanto, era a única coisa que poderia mostrar ao colega. Seu amigo gostou tanto da arte que passou a chamá-lo de ‘’coelho’’, ‘’eu era Coelho 1 e ele Coelho 2’’, fazendo o registro da história dos dois através do nome, ‘’hoje ele assina Sorte7, por causa da sorte do pé de coelho’’, conta. O nome ainda adquiriu uma nova camada após passar um tempo morando em Minas Gerais, enquanto estudava arte na Universal Federal de Uberlândia – UFU. Ao ouvir as pessoas chamarem o seu nome com um sotaque mineiro, diz que decidiu aperfeiçoar um pouco, ‘’então o Kuêio, vem daí’’, explica.

Hoje, as obras de Kauê são reconhecidas internacionalmente, mas ele diz que tudo começou através do prazer e do desejo de criar, ‘’não imaginei que um dia poderia ser uma profissão’’. Seja pixação, seja letra de graffiti, ‘’topava tudo, gostava de tudo e tudo me chamava atenção’’, surgiu aí a necessidade do fazer artístico. O artista diz que escolheu viver de arte porque reconhece que é isso que faz de melhor, ‘’Graffiti para mim é tudo, eu não me vejo fazendo outra coisa’’.

GRAFFITI X MURAL
Ainda, o Kuêio diz que há uma confusão na definição da palavra ‘’graffiti’’ e, que muitas pessoas não sabem ou utilizam o termo de maneira equivocada.

De forma geral, o artista explica que o graffiti seria a arte na sua mais pura essência: a arte pela arte. No entanto, quando a obra adquire um cunho comercial, ou tem como finalidade trazer algum retorno financeiro para o artista, deve-se chamar de mural. Fidelis diz fazer os dois.

Além disso, o artista conta que, em meio a sua trajetória na arte, desenvolveu uma outra paixão: o pixo, ‘’eu fiz o processo inverso, geralmente as pessoas saem do pixo para ir ao graffiti, eu não, comecei pelo graffite e fui atraído pelo pixo só depois’’, comenta. Mas, essa paixão, o levou a situações perigosas, como assédios quando ia pixar à noite na rua e até questões judiciais, ‘’então achei melhor parar’’.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E ARTISTAS
A ascensão da Inteligência Artificial tem se desdobrado em todos os campos, incluindo o meio artístico. Há um debate presente se essa nova ferramenta poderá prejudicar os profissionais, inclusive os artistas, já que é possível desenvolver ilustrações, e até mesmo obras no geral, através da IA. No entanto, Kuêio não a vê enquanto uma ameaça ao seu trabalho.

Criado em uma família de vendedores, o Fidelis reconhece que é necessário se atualizar no mercado para sobreviver do que gosta, ‘’não está ao meu alcance dominar o que o mercado dita, então, ou eu acompanho, ou eu fico para trás’’. Assim, ele enfatiza sobre a importância do artista de experimentar novas ferramentas, seja a IA, o NFT ou qualquer outra tecnologia que esteja crescendo. Pensando nisso, Kuêio criou uma oficina online, cujo objetivo é auxiliar os artistas a usarem a Inteligência enquanto uma ferramenta facilitadora na hora de desenvolver seus trabalhos, ‘’o futuro é incerto. Nós, artistas, devemos abraçar isso como pudermos’’.

A ferramenta lhe dá agilidade e otimiza suas produções, ‘’o que eu demoraria quatro horas para fazer, faço na metade do tempo, ou até menos’’. Assim, consegue captar mais mais trabalhos e, consequentemente, ter uma renda maior. No entanto, há sempre o outro lado da moeda…

Um dos desafios da IA para os artistas se encontra no desenvolver de projetos de cunho comercial, que não priorizam uma marca registrada ou a identidade do profissional. Mas, para trabalhos autorais, ou para artistas que têm uma identidade própria, Kauê não enxerga a tecnologia enquanto uma ameaça.

QUAL É SUA DOSE DE ARTE?
Kuêio se nutre através daquilo que oferece ao mundo, interpretando algo e devolvendo uma nova perspectiva sobre o que refletiu. ‘’Tem muita gente que fala, ‘qual o sentido da vida para você?’ e, para mim, o sentido está na arte. Minha dose diária de arte é ver um local possível onde eu possa criar’’, fazendo do vazio, uma possibilidade.

Se ficou curioso e quer conhecer melhor o artista, clique aqui e conheça seus trabalhos. E fique de olho, que mês que vem tem mais!

FOTOS (CRÉDITOS: LARISSA MAZZA)

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