Acadêmico da Abramark, grande nome do marketing do Brasil, sobretudo pelo trabalho brilhante desenvolvido durante os anos que que atuou na vice-presidência de marketing do Banco Itaú, Antonio Matias é Engenheiro de Produção e pós-graduado em Administração de Empresas.
Especializado em Marketing, Cultura Organizacional e Sustentabilidade, tem defendido a valorização do marketing permeando todos os setores das empresas. Atualmente atua como consultor e conselheiro de empresas e entidades do terceiro setor, com forte olhar para o posicionamento das marcas.
Confira as respostas de Antonio Matias às nossas cinco perguntas dessa semana.
Abramark – O senhor é considerado como um dos principais nomes por trás da construção de uma das marcas mais queridas do Brasil, o Banco Itaú, onde trabalhou por quase 40 anos. Como enxerga esse mercado hoje, muito impactado pelas fintechs e novos players?
AM – As exponenciais mudanças, provocadas pela tecnologia e as profundas alterações no comportamento dos consumidores, ampliam de forma dramática o papel das marcas para a competitividade das empresas. O desafio do branding é assegurar a essência de cada marca e garantir que ela continue contribuindo para fidelizar clientes e prosseguir com expansão exitosa.
Um exemplo muito claro desses desafios é encontrado no sistema bancário, onde novos players entram com força e muitas vezes com propostas disruptivas.
Novos cenários exigem mais do que adaptação e defesa. As marcas vitoriosas do futuro serão aquelas que melhor entenderem as tendências, forem capazes de se libertar das amarras do passado e oferecerem novas respostas.
O grande vencedor nesse confronto entre organizações tradicionais e os desafiantes será o cliente consumidor de produtos e serviços. Ele tem novas expectativas e demandas. As empresas tradicionais estão respondendo. Resta saber se conseguirão estar à altura do novo momento. Uma boa pista é entender a força e trajetória de suas marcas. Quem mostrou no passado capacidade para se reinventar provavelmente poderá continuar competitivo no futuro.
Abramark – Sempre foi um entusiasta da sustentabilidade e do terceiro setor. Nesse contexto, acha que a agenda ESG nas empresas, e o crescimento do debate diário em torno de temas como inclusão e igualdade reflexos de evolução natural da humanidade?
AM – Entendo a inserção das empresas nos temas de responsabilidade social, ambiental e governança como um caminho sem retorno.
Os desafios trazidos pela ação e expectativas das novas gerações, a mudança de comportamento dos investidores e a crescente conscientização dos consumidores impõem novas formas de gestão e fazem da agenda ESG um elemento vital na vida das organizações.
Os debates serão crescentes, as exigências se multiplicarão e as empresas precisarão aprofundar seu envolvimento.
É imperioso que temas como igualdade e inclusão, sustentabilidade no sentido mais amplo e envolvimento com os grandes temas da humanidade e do planeta ocupem posição central na governança das empresas. Essa é uma caminhada longa, mas com a necessidade de urgente aceleração. Os céticos se curvarão gradativamente.
Abramark – Ainda na esteira da pergunta anterior, o senhor, que sempre foi um defensor da educação de qualidade, avalia de que forma a educação no Brasil? Seja no ensino fundamental, médio ou superior, acha que temos avançado e aprimorado nossa educação como um todo?
AM – A questão da Educação no Brasil me angustia. Superada uma primeira etapa com a inclusão da maioria dos brasileiros no sistema educacional, enfrentamos agora o tremendo desafio da aprendizagem. A qualidade do ensino público é muito baixa. A escola não está preparando cidadãos para se emanciparem pela educação, nem oferece boas condições para sua inserção econômica. Não teremos futuro sem dar à educação a prioridade absoluta na agenda do País. Precisamos iniciar uma revolução no tratamento dessa questão.
Infelizmente pouco temos avançado seja no ensino infantil, fundamental, médio ou superior. Precisamos atacar todas as frentes. Há um enorme desafio na qualificação das futuras gerações. Um exemplo desse descompasso entre o necessário e o existente se dá no ensino médio que deveria ter foco claro imbricado com o ensino profissionalizante. Avanços, temos; casos exitosos, temos; mas, no conjunto, os avanços foram medíocres.
Abramark – Independente da gestão que assumirá a Governo Federal no ano que vem, quais são suas perspectivas para o Brasil no médio prazo, tendo em vista as sinalizações de mercado?
AM – O Brasil no médio prazo vai conviver com um cenário pouco animador. Precisamos de um Brasil justo e eficiente. Precisamos de um Brasil que seja fiscalmente responsável e ao mesmo tempo socialmente sensível. Falta coragem às lideranças brasileiras para tornarem o Estado uma estrutura a serviço do cidadão. Pelas perspectivas presentes da economia os próximos anos serão ou de muitos sacrifícios para melhorar o futuro ou de adiamento de decisões amargas que irão comprometer ainda mais as futuras gerações. O mercado está cauteloso, mas ainda não precificou tudo.
Abramark – Que conselhos ou dicas deixa para os estudantes e novos profissionais de marketing que desejam prosperar e crescer no mercado?
AM – Para os estudantes e novos profissionais só teria um conselho. Entendam que estão num mundo em contínua e acelerada mutação, que exige aprendizado contínuo. Não parem de aprender. Sejam mais participativos. Bebam na fonte. Entendam que o conhecimento de hoje será rapidamente obsoleto. Prestem atenção nas tendências. O cenário é de disrupção e vencerão os inquietos, os aplicados e os capazes de se adaptar.
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