Cofundador e sócio da NBS, até a finalização da venda da agência, Roberto Tourinho tem escrito uma importante história na comunicação brasileira. Proveniente da área de finanças, Tourinho ingressou no mundo da propaganda na Propeg, dando início a uma carreira que não parou de crescer na publicidade.
Com forte atuação associativa, com passagens pela Abap, Cenp, e atualmente na vice-presidência do Sinapro-SP, Tourinho é mais dos inúmeros soteropolitanos a brilharem no mercado da comunicação.
Confira as respostas às cinco perguntas da Abramark desta semana.
Abramark – Nos últimos anos, o modelo tradicional de agências vem sofrendo muito com às constantes reduções em suas receitas. Em seu entendimento, quais os impactos que isso trouxe para o mercado?
RT – Não há dúvida que o mercado sempre evolui e as relações comerciais têm que evoluir também. O modelo de intermediação de agências aonde a remuneração é paga pelo veículo através de um percentual sobre o investimento de mídia do Cliente, chamado Desconto-Padrão e previsto nas normas do Cenp (Fórum da Autorregulação do Mercado Publicitário), passou a ser contestado por vários clientes, levando inclusive a ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) a se desfiliar do Cenp. A remuneração das agências pela bonificação de volume passou a ser bastante discutida no mercado. No meu ponto de vista, houve uma redução excessiva na remuneração das agências e a consequência foi uma redução no nível de senioridade dos profissionais que atuam neste mercado.
Abramark – Como investidores olham para o mercado brasileiro da comunicação? Acha que ainda há espaço para grandes aquisições e grandes investimentos internacionais?
RT – Não vejo mais espaço para grandes aquisições, nos últimos 5 anos percebemos até uma consolidação nos grandes grupos multinacionais fundindo ou extinguindo marcas que foram relevantes no mercado brasileiro. Vejo espaço para investidores, sejam eles nacionais ou internacionais e espaço para a criação de novas agências criativas em um novo formato, sejam elas nacionais, multinacionais ou independentes, como a Suno, Soko, David, Gut, Galeria, Aldeiah, entre outras. Vejo também a consolidação de grandes agências brasileiras como a Propeg e o Grupo PPG, Artplan e o Grupo Dreamers, e a FSB Comunicação e o Grupo FSB somente para citar três grandes, e várias outras agências que continuam atuando de forma sólida no mercado como a Idéia 3, Binder, We, Nova SB, Calia, Agência 3, Opus Múltipla, Ampla entre várias outras no Brasil.
Atuando como Vice-Presidente do Sinapro-SP (Sindicato das Agências de Propaganda do Estado de São Paulo), percebo também a força das agências do interior de São Paulo que cresceram e ocuparam espaço relevante no mercado, mesmo com todas as adversidades que a pandemia trouxe.
Abramark – Hoje o mercado ainda não encontrou qual será o novo modelo de prestação de serviços de uma “agência”. Como acha que será? Você acredita que hoje já existam exemplos de novas agências dentro desse “novo modelo”?
RT – Acredito na força do marketing. A era digital, o questionamento ao modelo econômico e a pandemia aceleraram de forma brutal a transformação do mercado publicitário e consequentemente das agências, clientes e entidades.
Estamos vivenciando agora uma profunda transformação no Cenp procurando o diálogo com o mercado para revisar e debater os modelos possíveis de serem implementados tentando atrair novamente a ABA para este centro de debates, O IAB (Interactive Advertising Bureau) já retornou ao Cenp, testemunhamos também as transformações ocorridas no Sinapro-SP, com a consolidação da participação das lideranças das agências do interior de São Paulo, atuando fortemente em conjunto com a Fenapro (Federação Nacional Agências Propaganda) e a ABAP (Associação Brasileira das Agências de Publicidade) nas grandes questões regulatórias que envolvem a nossa Indústria.
Quantos aos novos modelos de negócios, eles começaram a ser praticados há quase uma década pelas as agências que atuam nas capitais fora do eixo São Paulo, Rio e Brasília, e nas grandes cidades brasileiras, com novos formatos de remuneração por fees, sucess fees, participação em resultados e outras métricas.
Um pouco antes da pandemia, estas questões passaram a ser mais debatidas nestes três mercados e já resultaram na criação de novas agências em novos modelos, como Soko, Suno, Gut e outras já citadas, bem como na criação recente de novas empresas como a Aldeiah, Galeria e Hubble, por exemplo, além do crescimento dos grandes grupos nacionais com muita agilidade e criação de novas agências que complementam as diversas especialidades existentes hoje no mercado, decorrentes do avanço das tecnologias digitais, valorização dos dados e respectivas métricas de resultado.
Eu vejo que esse novo modelo já existe, mas ele é mutante, um eterno “work in progress”, pois hoje as empresas têm que ser ágeis, adaptativas, diversas e sobretudo éticas.
Abramark – Sabemos que tem atuado como consultor. Pode falar um pouco sobre esta nova fase, o que tem feito, e sobre os projetos que tem participado?
RT – Após a conclusão da venda total da NBS para a Dentsu Aegis Network, cumpri um non-compete até janeiro deste ano. Neste período me atualizei profissionalmente, continuei atuando no mercado como Vice-Presidente do Sinapro-SP, conclui o curso de Certificação em Conselho de Administração pelo IBGC, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, atuei pro bono em mentorias colaborativas e iniciei uma parceria recente com o MadiaMundoMarketing como Financial Advisor para futuros projetos.
Abramark – Que conselhos ou dicas deixa para os líderes e gestores de agências nesse cenário tão desafiador?
RT – O mundo definitivamente mudou e os líderes e gestores são sempre olhados como exemplos. A diversidade, o meio ambiente e a governança corporativa entraram na pauta para não mais sair, mas para mim o grande olhar continua sendo para as pessoas, pois são elas que representam a diversidade de raça, de gêneros, de religiões, de culturas e etnias, são elas as responsáveis por cuidar do meio ambiente, da preservação da natureza, da reciclagem de resíduos, são elas as responsáveis por cuidar dos ambientes empresariais, corporativos, públicos, criando espaço para o erro e o aprendizado, respeito ao contraditório, respeito à família dos colaboradores e à integridade física e emocional dos respectivos colaboradores e cadeia de stakeholders dos seus respectivos negócios.
Por fim, acredito que a educação seja a base de tudo e que em cada um de nós existe um professor que pode contribuir de alguma forma com a educação daquele que está mais próximo de você. Todo líder e gestor deve ser um propagador na atitude e na boa influência sobre os temas acima.
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