IA: de algoritmo a organismo

Por Bruno Campos de Oliveira*

 

Imagine um sistema onde milhões de agentes autônomos aprendem uns com os outros, em tempo real. Um carro autônomo freia ao detectar um perigo — e, segundos depois, toda a frota conectada já sabe como reagir. Uma IA médica identifica uma nova mutação viral — e esse dado treina algoritmos em três continentes.

Esses não são apenas casos de uso. São sinais de algo maior: a inteligência artificial está deixando de ser um software isolado para se tornar um organismo interligado — um cérebro coletivo digital.

A virada da ferramenta para o ecossistema

Durante muito tempo, falamos da IA como uma tecnologia. Um modelo de linguagem, uma rede neural, um algoritmo que resolve tarefas com alto desempenho. Mas o salto real não acontece quando esses modelos melhoram. Acontece quando eles se conectam.

IA + sensores + cloud + conectividade = um ecossistema que percebe, decide e aprende o tempo todo. O que um sistema aprende, todos aprendem. O que uma máquina identifica, todas corrigem. É o início de um sistema nervoso digital global.

E o marketing está no centro desse processo.

Se antes segmentar era agrupar pessoas parecidas, hoje é conversar com indivíduos únicos.
Imagine cada interação alimentando um grande sistema. Cada clique, cada visita a uma loja, cada item que entra no carrinho de supermercado. É a hiper personalização, na prática.

Quando Lovelock encontra o Vale do Silício

Nos anos 1970, o cientista James Lovelock propôs a Teoria de Gaia: a Terra como um organismo vivo e autorregulado, resultado da interação entre geologia, atmosfera e vida. Hoje, podemos dizer que estamos criando uma “Gaia digital”: sensores como nervos, nuvem como sistema circulatório, IA como cérebro.

Cada nova aplicação de inteligência artificial em rede nos aproxima de um sistema capaz de evoluir com base no coletivo. Uma inteligência que não depende de indivíduos, mas de colaboração entre sistemas distribuídos. Já imaginou isso integrado ao CRM de uma grande marca?

Casos reais, impactos reais

Empresas já estão operando dentro desse paradigma. Segundo um artigo de 2025 da Business Insider, a Penske Logistics, por exemplo, conecta mais de 200 mil caminhões a um sistema de IA que coleta 300 milhões de dados por dia. Resultado: menos falhas, menos custos, mais inteligência.

Imagine quantos iPhones temos no mundo, cheios de sensores, de aparelhos de IoT, casas cada vez mais inteligentes. E uma IA aprendendo com isso. Ficando mais inteligente a cada dia. O cliente compra um produto que melhora a cada dia que passa.

Recentemente, comprei um dispositivo fitness chamado Whoop. O conceito é que você utilize ele 24 horas por dia, 7 dias por semana. Ele mede tudo, meu sono, recuperação, nível de esforço, quanto peso peguei na academia, o que eu comi. Mas o mais interessante é que, quanto mais você usa, mais inteligente ele fica. Ele tem uma IA que vai te dando dicas, ajustando padrões e chegando em um nível de personalização absurdo.

É um produto que melhora com tempo – como acredito que toda solução de IA deveria ser pensada daqui para frente.

E agora?

Se a IA está se tornando um organismo vivo, o que nos cabe como sociedade? Como profissionais de marketing?

Não se trata de conter a tecnologia, mas de orientar seu desenvolvimento com responsabilidade, diversidade e ética desde agora. Estudo recente do Paris Institute for Advanced Study reforça isso: a inteligência coletiva humana será essencial para garantir que a IA evolua de forma benéfica.
Assim como a Europa liderou a GDPR (base da nossa LGPD), sinto que ainda estamos operando em uma terra de pouca ou nenhuma lei. E isso não deve durar para sempre.

A inteligência artificial não é só mais uma tecnologia. Ela é uma infraestrutura viva.

E o que plantarmos agora, ela vai multiplicar em escala.

Inclusive na forma como marcas se relacionam com pessoas.

* Bruno Campos de Oliveira é COO da Adsplay

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