Em entrevista, artista fala sobre os processos criativos de suas obras desenvolvidas em parceria com sua irmã
Por Patrícia Mamede
Os Irmãos Credo são dois artistas e, claro, irmãos, que trabalham juntos no desenvolvimento de suas artes. São muito conhecidos por usarem tons fortes e densos em suas obras e evocam um sentimento intrigante, devido aos elementos utilizados para compor seus trabalhos. A fim de entender melhor como funciona a parceria entre eles, como são seus processos criativos e, afinal, o que buscam transmitir em suas criações, entrevistamos Jesus, um dos artistas dessa parceria, irmão de Izzy Credo.
Créditos: Dionisio.AG
Podem nos contar um pouco sobre como iniciou a trajetória de vocês na arte?
O desenho sempre esteve presente em nossas vidas, desde criança, e acho que até pelo custo barato que é manter essa poética né? Somos uma família de cinco irmãos; quatro desenham. Eu, Jesus, fiz artes visuais na federal de Goiás e, lá, tive contato com outras técnicas como gravura, aquarela e escultura. Mas, só muitos anos depois que me juntei com a minha irmã para realizarmos pintura em murais.
Vocês realizam trabalhos separados também? Como funciona a parceria entre vocês?
Temos o trabalho no Irmãos Credo que é comercial, e eu tenho a minha pesquisa solo na poética da pintura. No duo, a gente faz tudo junto mesmo. A Izzy tem mais responsabilidade na parte de burocracia e aplicação para editais, enquanto eu me preocupo com o desenvolvimento de identidade e narrativa das obras.
Como funciona a dinâmica de trabalho entre vocês, já que residem em diferentes cidades?
Muitos dos trabalhos não exigem que estejamos presencialmente, pois, como fazemos muitas entregas para marcas, com produtoras e agências, cada um consegue fazer da sua casa. Mas, quando se trata de murais, se for em Goiás, a Izzy faz, e se for em São Paulo, eu faço. Quando o projeto é muito grande, a gente se encontra.
Parte da campanha “Ypê Tá em Casa”, criada pela DPZ. Ypê convida Irmãos Credo para realizar uma “Pintura Reversa” e Dionisio.AG contribui com produção executiva, artística, cultural e curadoria
Quais são os principais símbolos presentes na arte de vocês? Podem explicar um pouco sobre os temas que vocês procuram abordar?
Na verdade, o nosso trabalho é muito autobiográfico. Trabalhamos com o nosso modo de ver as coisas, como, a cultura da nossa família, a cidade e o estado. O Iberê Camargo [pintor, professor e gravurista brasileiro] que falava, se não me engano, que ‘’na falta de um passado glorioso, se faz uma história pessoal’’. Nosso avô foi folião da folia de Reis, tinha uma congada [expressão cultural e religiosa que mistura elementos africanos e cristãos] que acontecia na rua da minha casa, e as primeiras imagens pintadas que vi foram a de uma Bíblia que tinha umas pinturas bizantinas. Em resumo, é como a gente percebe e recebe isso tudo; como vemos o mundo.
Vocês têm vários trabalhos com marcas bem grandes. Dependendo do projeto, como vocês conversam seus ideais com as propostas dos clientes?
A gente fez tanta coisa mergulhando em nossa própria pesquisa que esses trabalhos chegaram até a gente justamente para fazer o que fazemos de melhor. Como o sudeste não conhece vários símbolos e elementos, ou o jeito de se relacionar do centro-oeste, nosso trabalho ganha uma camada misteriosa; uma mística da qual nos apropriamos. Mas tem um ou outro que se interessam mais pelo externo; pela figura.
Quais são os maiores desafios para vocês no mundo da arte? E quais são os maiores benefícios?
É um caminho muito difícil, né? Porque, por exemplo, não consideramos o que o Irmãos Credo faz como arte. Vejo como ilustração. Além disso, o desafio está no dia a dia. Nosso trabalho tem muita síntese das formas, o que exige que trabalhemos analiticamente. Depois, fazer com que o público se acostume e reconheça a estética que estamos propondo… tudo isso leva tempo. É importante ter boas referências – e não estou falando de feed de Instagram. Os maiores benefícios eu não sei [risos], talvez se conhecer no decorrer do processo e criar imagens de si mesmo.
A print de vocês no Dionisio Ateliê é sempre muito elogiada, devido principalmente aos tons de cores fortes e vibrantes que vocês usam. Podem contar um pouco mais do que existe por trás dessa obra, a história e a ideia que vocês tiveram ao realizá-la?
Bom demais saber disso! Ficamos conhecidos mesmo por esse exagero de cor, tanto para o bem, quanto para o mal. Na verdade, no início, foi uma falta de conhecimento da relação das cores. Tínhamos que estudar e a gente estava só com muita gana de fazer. Só depois, mergulhando no trabalho, que percebemos que essas cores falsas, quase radioativas, têm uma influência em como percebemos as cores, a partir do sol de Goiás que costuma saturar tudo.
Obra disponível em Dionisio Ateliê
Não acho que a cor seja o ponto a se ligar em nosso trabalho, não. Eu, particularmente, acho as formas muito mais interessantes. Essa print fala muito mais do não do que do sim, e nós gostamos do mistério. Apesar de ser uma ilustração, a gente gosta de deixar essa confusão; deixar em aberto, para a imagem não se resolver por ela somente; não ter um fim, mas chamar o espectador para ‘’gastar uma goma’’ viajando em seus próprios pensamentos.
Você pode conhecer melhor o trabalho do Irmãos Credo clicando aqui. Além disso, você pode adquirir essa print cheia de provocações e cores, mencionada na entrevista, no Dionisio Ateliê, nossa loja on-line. Muito obrigada Irmãos Credo e fiquem ligados que no mês que vem tem mais!