O impacto da cultura de fãs para além dos artistas

*Por Luiz Menezes

Os fãs possuem um papel fundamental na vida de um artista, porém, frequentemente são questionados, julgados e até menosprezados por uma parcela da população que insiste em descredibilizá-los. No entanto, a verdade é que os fãs possuem um impacto enorme na indústria do entretenimento, além do poder econômico dos fandoms. O assunto foi debatido no painel What Happens to Fangirls When They Grow Up?, que assisti durante o evento SXSW, em Austin, nos Estados Unidos.

A produtora de desenvolvimento da Done+Dusted, Devin Lytle, categorizou o fandom em dois: o ‘fandom afirmativo’ (affirmational fandom) e o ‘fandom transformacional’ (transformational fandom). Ela explicou que o afirmativo é aquele em que os fãs estão próximos do objeto de adoração, colecionando itens, visitando locações e absorvendo o máximo de informação possível. Já o transformacional utiliza a obra original como ponto de partida para a criatividade, incluindo fanfics, fanarts, cosplay e releituras.

Devin destacou que Hollywood tradicionalmente favorece o ‘fandom afirmativo’, mas enfrenta dificuldades em lidar com o ‘fandom transformacional’, pois este muitas vezes desafia as noções de propriedade intelectual. Acredito que Hollywood, assim como as marcas em geral, precisam se engajar cada vez mais com essa cultura, para poderem se conectar com o público em um nível pessoal, afinal, a influência do fandom pode ser um fator transformador para as marcas no cenário tecnológico atual.

A fundadora da Clio Consulting, Jenny Stiven, compartilhou sua experiência pessoal na interseção entre fandoms e estúdios e relembrou um momento marcante, onde criaram um site para acompanhar o lançamento de Star Wars e organizaram uma vigília beneficente por seis semanas em frente ao cinema. No início, a mídia os ridicularizou, e os retratam como nerds que moravam no porão dos pais. Mas, em poucos dias, a narrativa mudou e começaram a apoiar a causa deles, sendo um ponto de virada, dado o impacto social das movimentações que realizaram.

Outra questão debatida foi a ausência de uma figura dentro dos estúdios que faça a ponte com os fãs e citaram que o primeiro grande estúdio a fazer isso foi a Lucasfilm. Diante deste cenário, o que eu vejo com frequência são fãs tendo que recorrer às redes sociais para chamar atenção, porque não há um canal direto. E isso acontece bastante em campanhas de engajamento, como para salvar uma série cancelada, entre outras ações. No final do dia, a qualidade não se sustenta sozinha e é preciso de números, o que pode ser bastante frustrante.

Apesar dos fãs nem sempre serem levados em consideração em muitas situações, possuem um inegável impacto econômico. Meredith Levine, fundadora da consultoria Random Machine, ressaltou que um fandom não morre, mesmo que as janelas de marketing e os orçamentos desapareçam, pois a partir do momento que os fãs se envolvem uns com os outros, o fandom se sustenta sozinho. Segundo ela, 10 anos é aproximadamente o tempo que leva para que uma geração ensine outra a ser fã, reforçando a tendência da GenZ de consumir obras de outras épocas, por exemplo.

Essa discussão reforça um comportamento cada vez mais evidente e que acredito muito: o fã é o verdadeiro motor de ascensão de creators no século dos algoritmos. O consumo parte da identidade do fã, e o poder econômico das comunidades se mostra essencial para a viralização de produtos, artistas e marcas. Exemplos como BTS, Anitta e personagens da Disney demonstram que a fidelidade dos fãs atravessa gerações. Marcas que conseguem construir essa relação, respeitando e ouvindo consumidores, não apenas cultivam fãs leais, mas garantem impacto real nos negócios.

A conexão entre os fandoms e produção de conteúdo se intensifica ainda mais com a ascensão de creators que emergem diretamente das comunidades de fãs. O estudo “Quem influencia a geração Z?” da Trope (consultoria de Geração Z e Alpha da qual sou fundador) em parceria com a YOUPIX, destaca algo interessante: 50% da GenZ passa mais de 7 horas conectada por dia, o que permite uma interação cada vez maior com os criadores de conteúdo que gostam ou acreditam.

Vejo que casos como o de Malu Koerich, que transformou sua paixão por Fórmula 1 em uma carreira como influenciadora, ilustra como o envolvimento com fandoms pode ser uma excelente aposta para alavancar carreiras dentro do mercado da creator economy, que está em constante crescimento. Além dos fãs aumentarem a relevância de marcas e artistas, também são capazes de moldar novas narrativas culturais que eram controladas exclusivamente pelos grandes estúdios. No fim, só fundamenta ainda mais a tese de que fandom não é só admiração, mas sim força cultural e econômica.

 

*Luiz Menezes é fundador da Trope, uma consultoria de geração Z e Alpha que ajuda marcas a rejuvenescerem suas estratégias de negócio através da creator economy. Aos 25 anos, Luiz é nativo digital, creator, apresentador, empresário e empreendedor. Presente no mercado e atuando na área de comunicação há 9 anos, o especialista acumula experiência em organização de eventos voltados à cultura pop e geek, prestação de serviços de marketing de influência e digital PR para grandes marcas, como Meta, Itaú, BRF, Mondelez, P&G, Oi, entre outras.

 

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