O Medo de Investir na Organização dos Dados

Por Marco Marcelino

Há quem diga que os dados são o petróleo do século XXI. Discordo. Petróleo é matéria bruta; dados, são como uma orquestra afinada. Você pode até ter um Stradivarius nas mãos, mas sem a técnica certa, será apenas um pedaço caro de madeira. E aqui está o ponto: o valor dos dados não está na existência deles, mas no que fazemos com eles.

Mas investir em algo invisível, a organização da informação, dá medo. É como colocar seu dinheiro em um cofre que só abrirá se você confiar no código. Há algo de profundamente humano nesse receio. Afinal, como dizia Maquiavel, “os homens hesitam menos em prejudicar quem se faz amar do que quem se faz temer”. A incerteza assusta, e, para muitos empresários, gastar com dados parece amar o intangível, um gesto de fé.

O problema, no entanto, é que não fazer nada tem um custo maior: o tempo. E esse, como todos sabemos, é implacável. Empresas que hesitam em investir na estruturação de dados vivem de improviso, como quem dirige à noite sem faróis. Pode até chegar ao destino, mas não sem desvios, batidas e um grande desperdício de combustível.

Pegue um exemplo prático: aquele catálogo impresso de 10 anos atrás. Lembra? Milhares de exemplares feitos para aproveitar o melhor preço gráfico, guardados depois em armários como monumentos ao desperdício. Telefones desatualizados, endereços que não existem mais. É o retrato de quem investiu no volume e ignorou a lógica.

E quando falamos de dados, estamos falando de algo ainda mais dinâmico, algo que pode transformar o presente em futuro. Ou prefere que o seu presente seja algo que ficará no passado. Um telefone, isolado, não é nada. É uma célula preenchida, um fósforo apagado. Só que, ao cruzá-lo com padrões de consumo, dados de comportamento, jornadas de cliente e inteligência artificial, ele se transforma em uma oportunidade. E isso não acontece por mágica; custa tempo, dinheiro e, acima de tudo, a coragem de começar.

Muitos têm medo de errar ao escolher quem fará esse trabalho. Confiam na pessoa com perfil errado, desistem na metade do caminho e, como diria Einstein, continuam fazendo as mesmas coisas esperando resultados diferentes. Meses, anos se passam. E quando olham para trás, concluem que a ciência não funciona. Mas será mesmo a ciência? Ou é a gestão, que falha ao não entender que fatos são mais que números, são padrões vivos que refletem o pulso da empresa?

Gosto de Tolstói ao fizer que todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo. Essa resistência é o que aprisiona muitos negócios. O medo de investir na organização dos dados não é medo de gastar; é medo de olhar no espelho e admitir que é preciso fazer diferente. É medo de assumir que o problema não está no fósforo, mas na habilidade de usá-lo.

O futuro pertence a quem investe em direções, não em velocidades. Afinal, aquele que move montanhas começa carregando pequenas pedras. Talvez a sua pequena pedra seja confiar nos profissionais certos, entender que ciência de dados não é sobre gráficos bonitos, mas sobre transformar o caos em caminhos claros.

Afinal, não dá para testar o fósforo antes de usá-lo. Mas dá para confiar que, com a mão certa, ele acende.

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