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Sara Duarte: a primeira grafiteira a pintar todos os estados brasileiros

Artista fala sobre arte-educação, o movimento Hip Hop e o impacto do graffiti na vida urbana

 

Por Patrícia Mamede

Sara Duarte Mateos é natural do Uruguai, mas veio para o Brasil aos quatro anos de idade e, por isso, brinca que é uma “brasiguaia”, já que a cultura brasileira teve enorme influência em sua formação pessoal e artística. Arte-educadora, produtora cultural e grafiteira, seu primeiro contato com a produção artística aconteceu em 2012, quando começou a criar stencils e personagens, inicialmente aplicados em brincos feitos com retalhos de couro do trabalho artesanal de seu pai, também artista. Com o tempo, seus desenhos passaram a exigir mais espaço e migraram para os muros, marcando o início de sua trajetória no universo do graffiti.

Com o passar dos anos, Sara foi se tornando mais íntima das ferramentas e de sua própria linguagem, o que a levou a abandonar os personagens e se dedicar integralmente às letras, uma escolha que se intensificou a partir de 2021, junto ao seu aprofundamento na cultura Hip Hop.

 

 

Enquanto cursava licenciatura em Artes Visuais, recebeu uma indicação para ministrar aulas de graffiti em um projeto do governo chamado Mais Educação. A experiência a levou a estudar com mais profundidade não apenas a técnica, mas também a história do graffiti e da cultura Hip Hop. Para Sara, esse processo foi essencial, tanto para assumir a responsabilidade de ensinar quanto para se aproximar da essência desses movimentos. “Eu não sei se é uma regra, mas, no meu entendimento, é muito importante entender todo esse contexto para poder passar isso para os estudantes, para eles entenderem que não é só pintar um muro, né? Vem de uma cultura, de um movimento social…”, explica.

Seu envolvimento com a história e com as oficinas a levou a desenvolver projetos próprios de educação, como a Agenda Urbana, iniciativa criada e administrada por mulheres desde 2016. O projeto foi um marco na criação de um espaço em Florianópolis que, posteriormente, deu origem a movimentos culturais e políticos, como o Fórum Setorial do Hip Hop, a APAECUF, batalhas de tag, além do primeiro festival de graffiti 100% feminino da cidade.

 

 

A consciência de Sara sobre a condição das mulheres no Hip Hop se fortaleceu durante esse processo, especialmente pelo fato de a Agenda Urbana ter sido um espaço fundado organicamente por mulheres e o primeiro nesse formato em Florianópolis. Ela comenta sobre os desafios de ser artista mulher:

“Por a gente ser minoria no graffiti, eu sinto que a gente tem que se esforçar um pouco mais para conseguir atingir as coisas ou ganhar espaço.”

Apesar da importância dos espaços exclusivos para mulheres, Sara também defende a existência de ações mistas como forma de equilibrar forças e promover respeito dentro da cena. “Eu sou bem a favor de ações só de mulheres, mas também bato na tecla de que tem que ter 50/50, para reforçar que a gente está aqui”, afirma.

Segundo ela, muitos dos obstáculos enfrentados por artistas mulheres, como a insegurança nas ruas, dificuldades logísticas para mães e a falta de estrutura,  acabam afastando várias delas do universo da arte. Por isso, a artista tem buscado fortalecer redes de apoio, como a Crew Corre das Minas, um coletivo do qual faz parte e que atua em nível nacional, promovendo encontros, ações de pintura e trocas constantes entre mulheres ligadas ao Hip Hop.

 

 

“Eu quis trazer mulheres juntas para criar espaços que fossem acolhedores e criassem oportunidades para que as mulheres permaneçam e tivessem mais chances dentro da cultura Hip Hop.”

Ao falar sobre o graffiti, o brilho nos olhos de Sara é evidente. Para ela, o movimento vai muito além da pintura em muros, mas é uma forma de conexão entre pessoas e uma construção coletiva de identidade. Um de seus esforços, portanto, é levar a beleza do graffiti e do Hip Hop para a cidade e para as pessoas. Ela reconhece que existe uma relação ainda ambígua entre os órgãos públicos e esses movimentos. Embora haja abertura em alguns casos, a cultura ainda é recebida com receio por ser periférica, politizada e ocupar os espaços públicos de forma potente.

O Hip Hop, segundo Sara, oferece múltiplas camadas de expressão, como graffiti, dança e música, mas também funciona como uma poderosa ferramenta de transformação social. Ele permite que crianças e jovens da periferia encontrem encantamento, autoestima e perspectiva por meio da arte.

 

 

“O público também é importante, seja quem passa e vê teu graffiti, quem vai na batalha ouvir as ideias lançadas ali, quem ouve um som ou te vê dançar. Muitas vezes a gente esquece do público. Mas o público é importante.”

Na visão da artista, o movimento também atua como porta de entrada para a politização, o aprendizado e o acesso à cultura e ao conhecimento. Ela aponta ainda a falta de um ensino acadêmico mais aprofundado sobre o tema.

“Na minha época, pelo menos no meu curso, tinha uma disciplina chamada Arte no Contexto Urbano, mas falava só de forma superficial sobre o graffiti e focava mais no stencil. Até onde eu sei, a gente ainda não tem um currículo acadêmico que ensine a cultura Hip Hop mais profundamente.”

Por meio de mutirões e ações comunitárias, Sara também atua na revitalização de espaços abandonados, trazendo cor, afeto e ressignificação para os territórios. Esse processo impacta diretamente os moradores, fortalecendo o senso de pertencimento e a autoestima da comunidade.

Até onde se sabe, Sara Duarte Mateos é considerada a primeira mulher a pintar em todos os estados brasileiros. Ela reconhece esse feito como um marco em sua carreira profissional, mas reforça que, mais do que o pioneirismo, valoriza as experiências vividas, o contato com diferentes culturas e as conexões estabelecidas com grafiteiros que a acolheram em diversos lugares do país. As viagens ampliaram sua visão sobre os territórios e fortaleceram sua evolução artística.

 

 

“O meu objetivo é o graffiti, mas, no caminho, eu vivencio várias coisas.”

A principal característica de suas obras é a presença de seu próprio nome. Para Sara, isso representa a essência do graffiti: deixar sua marca espalhada pelo país. Esse reconhecimento, além de fortalecer sua trajetória, também reverbera em suas ações como arte-educadora, beneficiando crianças e jovens atendidos por seus projetos culturais e oficinas. Nesse sentido, seu nome carrega um compromisso social de disseminar conhecimento e abrir caminhos para outras pessoas.

Para conhecer mais sobre o trabalho de Sara Duarte Mateos, clique aqui.

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