A Dojo, agência liderada por Thiago Baron e Rodrigo Toledo, lançou para o mercado sua unidade de estudos comportamentais e estratégia, a KOGA, e junto com ela, o estudo Brasil de Bolhas em parceria com a Offerwise e a Eurekah. A análise cruzou dados qualitativos e quantitativos coletados com mais de dois mil entrevistados do país todo. Segundo a KOGA, o contexto histórico político e cultural foram os fatores que mais contribuíram para a formação das bolhas de diálogo dos dias de hoje.
“Vimos que o percurso que nos trouxe até esse momento começou lá nos movimentos políticos de 2013, e, desde então, vem se intensificando até os dias atuais. Além disso, a democratização da internet, o boom das redes sociais e a descentralização da informação, bem como o aumento das chamadas Fake News também foram essenciais para a inflamar o diálogo entre os brasileiros”, comenta Sabrina Abud, gerente de pesquisa da Koga.
Com o passar dos anos, muitos acreditam não ser possível voltar a dialogar de forma respeitosa. Os dados do Brasil de Bolhas apontam que 52% dos brasileiros acreditam que as pessoas não estão preparadas para ouvir quem pensa diferente. Assim, o sentimento que fica para muitos que viveram este percurso é o de cansaço e, para os que começaram a se envolver recentemente, de desmotivação.
Nesse contexto, a KOGA mapeou cinco perfis da população sob o ponto de vista de como se comunicam e dialogam, sendo eles: contestadores (11,5%), isentos (43,1%), impositivos (4,5%), rígidos (13,3%) e idealistas (27,7%).
O primeiro são aquelas pessoas que mais detestam perder discussões (43,7%) e constantemente tentam convencer os outros sobre o que acreditam. Eles são os menos influenciados pelos familiares e possuem uma baixa religiosidade (13,1% se consideram ateus/agnósticos/teístas – segunda maior taxa do estudo). Acreditam na cultura como ferramenta de inserção social e no movimento de ocupar espaços públicos para furar bolhas e conectar diferentes perspectivas.
É o grupo mais ativo nas redes sociais (60% se considera muito ativo) e o segundo que mais busca fazer campanha sobre as causas nas quais acredita e contra as que não acredita. Eles (82,1%) seguem marcas e buscam por alinhamento político com aquelas que consomem. Além disso, querem vê-las agindo mais e cobram delas um posicionamento que não seja neutro.
Os isentos não gostam e evitam a qualquer custo se envolver em discussões polêmicas (68,2%), independentemente do ambiente. Quando o fazem, geralmente é em família, por se sentirem mais confortáveis e seguros. Este grupo é mais evangélico do que a média, sendo influenciado por alguns conceitos religiosos em assuntos de ordem moral e política. São pessoas que têm mais interesse pela cultura internacional e pela cultura brasileira mainstream.
São os menos ativos nas redes sociais: mais da metade (54,2%) se considera pouco ou não muito ativo e 46,1% dificilmente ou nunca entraria em uma discussão política nesse ambiente. Também é o perfil menos aberto e engajado com o trabalho de marcas em relação ao meio social e pouco acreditam (quando comparado aos demais perfis) que elas podem colaborar na melhora dos diálogos entre as pessoas.
Os impositivos buscam combater grupos opostos e, mesmo sendo o menor perfil de todos (4,5%), se destacam nas discussões, sendo os mais viscerais de todos; 58,9% tentam constantemente convencer os outros sobre o seu posicionamento a respeito do que acreditam. Este perfil é o segundo mais influenciado pela família em relação ao seu posicionamento e leva os conceitos da religião para discussões políticas.
É um público que se conecta culturalmente com aqueles que compartilham a mesma visão política e usam seus critérios morais para apoiar ou boicotar qualquer ato cultural. Nas redes sociais, fazem campanhas contra causas que não acreditam e usam o WhatsApp e o Telegram para se informar e dialogar. Também é o mais aberto e próximo das marcas (78,9% às seguem), buscam pelas que tenham um posicionamento alinhado ao seu e que sejam contra o politicamente correto.
Os rígidos têm pouco interesse em entrar em discussões políticas porque quase não acreditam ser possível ter diálogos produtivos e saudáveis com pessoas que pensam muito diferente. A religião, a família e a tradição são questões fundamentais e inquestionáveis para este grupo (48,5% são evangélicos/protestantes), que ocupam um lugar central em todos os âmbitos de sua vida, incluindo a cultura. Por isso, 59,8% estão mais abertos a conversar com familiares que pensam diferente.
Este perfil é o segundo menos ativo nas redes sociais (51,5% se considera pouco ou não muito ativo). 33,5% não conversa sobre assuntos sociopolíticos com quem pensa diferente nas redes sociais. E, apesar de não buscarem tanto saber qual o posicionamento político das marcas que consomem (77,1% seguem marcas), ao ser impactado por algo que não esteja alinhado às suas crenças e valores, acabam as rejeitando completamente.
Por fim, os idealistas são os que se mostram mais abertos a conversar com quem pensa diferente, porque acreditam que assim podem fazer a diferença. São mais reflexivos e tendem a ser mais ponderados em discussões. Estão menos preocupados em ganhar, mas sim em adquirir novos aprendizados. Costumam ter mais contato com diferentes perfis de pessoas, o que traz uma noção maior da importância da inclusão e diversidade como solução para furar bolhas. Nas redes sociais, 63,7% procuram fazer campanha sobre as causas nas quais acreditam.
Eles possuem maior vínculo de diálogo com seus amigos, sendo mais influenciados por estes do que pela família em assuntos sociopolíticos. Têm a menor taxa de religiosidade (19,2% – maior número – de ateus/agnósticos/teístas). São mais ativos nas redes sociais do que a média (39% se consideram muito ativos), mas as utilizam menos na hora de se informar. São os que mais procuram alinhamento políticos com as marcas (81,9% às seguem), querem vê-las atuando mais, buscam ativamente saber como elas estão colaborando com a sociedade e se suas ações estão alinhadas com a cultura interna.
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