Gabriel Estevam Domingos, diretor de P&D da Ambipar, faz uma análise sobre os Jogos Olímpicos 2020
Quem não se lembra da impressionante abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016 que contrastou destaques do meio ambiente? Com certeza foi um verdadeiro show de exuberância. Observamos cenas deslumbrantes da biodiversidade brasileira (florestas, biomas, índios e outras culturas) e a materialidade de gestos marcantes, como os atletas de todas as delegações carregando uma muda de árvore nativa, as quais, futuramente, seriam plantadas em uma área degradada, surgindo uma nova floresta.
Essas referências marcaram os Jogos Olímpicos Rio 2016 e como parte das jovens lideranças ambientais do Brasil, fui um dos representantes para conduzir a chama olímpica do revezamento da tocha na região de Santos, local em que cresci e conquistei importante marcos na minha carreira profissional. Trata-se de uma região marcada por questões ambientais. Como é o caso de Cubatão, no estado de São Paulo, que ficou conhecida como a cidade mais poluída do mundo. Depois de um longo processo de recuperação, ganhou o título da Organização das Nações Unidas (ONU) de Cidade Símbolo Mundial de Recuperação.
No início, quando recebi uma ligação telefônica do Comitê Olímpico informando que havia sido selecionado por meio de meu histórico na área, não imaginava a grandiosidade da ação. Foi muito bem organizado e perfeito. Atualmente, a tocha que conduziu a chama Olímpica junto com o certificado de condutor oficial está exposta na sala de reuniões da empresa líder em gestão ambiental, Ambipar, da qual faço parte como diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I).
Como Embaixador Ambiental da ONU, por meio de minhas iniciativas ambientais, tenho a certeza de que a participação de pessoas protagonistas de diversas áreas – meio ambiente, o social e o empreendedorismo – foram de suma importância para contar a história de nosso país durante as Olimpíadas de 2016, não só no esporte, mas em diversos segmentos. Agora, em 2021, nas Olimpíadas de Tóquio, as ações pautadas pela sustentabilidade terão continuidade, levantando uma forte bandeira de inovação e preservação ambiental. Uma das iniciativas é a fabricação da Tocha Olímpica a partir de alumínio, metal utilizado na construção de casas após o Tsunami de 2011, que destruiu cidades do Japão. Outro exemplo é a coleta de celulares, tablets, monitores e computadores em desuso que serviram para extrair ouro, prata e cobre para a produção das medalhas.
Um dos destaques do exemplo de sustentabilidade nas Olimpíadas de Tóquio são os pódios, feitos a partir de plástico reciclado. Os materiais foram coletados em campanhas que incentivaram as pessoas a doarem plásticos domésticos. A ação durou cerca de nove meses e, além da população, contou com a participação de rede varejistas e escolas do Japão. Ao todo, foram 24,5 toneladas de plásticos reciclados, suficientes para a fabricação dos pódios Olímpicos.
Não podemos esquecer das iniciativas de compensação de carbono, apoiada no pilar de crise climática. O Comitê Organizador dos jogos Olímpicos de Tóquio estima que o evento emitirá cerca de 2,73 milhões de toneladas de CO². O índice é ainda menor do que o normal, já que não terá participação do público, reduzindo emissões causadas por viagens, hospedagens, geração de resíduos e outros impactos.
Para compensar toda a pegada de carbono das Olimpíadas, após a realização de todos os jogos, serão calculadas quantas toneladas de CO² foram emitidas e a compensação virá através do uso de 100% de energia renovável. Por meio da aquisição de certificados de energia verde, o Comitê irá gerar créditos de carbono, a partir da transformação de energia não renovável em energia renovável. As ações pautadas pela sustentabilidade nas Olimpíadas são baseadas nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e trazem à tona as cobranças em relação às iniciativas verdes que atendem aos indicadores ambientais do ESG (Environmental, Social, Governance). Assim como a preocupação existe no setor privado, os países são pressionados a realizarem práticas a partir de condutas cada mais sustentáveis, não só pela imagem e reputação, mas pelas ações em prol do meio ambiente e pela luta contra o aquecimento global.
Para o futuro, podemos esperar que os próximos jogos olímpicos continuem levantando a bandeira da sustentabilidade e que as iniciativas sejam feitas em conjunto, tanto por instituições públicas como as privadas. Afinal, a nova tendência do planeta é a preservação ambiental e a geração de créditos de carbono, a partir de redução ou remoção de emissões e o ESG como essência.