Cusco Rebel e a arte enquanto reivindicação à brincadeira

Artista brasileiro conta sobre sua trajetória na arte, os significados por trás de seus símbolos e sustenta a fidelidade aos desejos de uma criança criativa

Jovem de 50 anos, Cusco Rebel, um dos maiores nomes do Graffitti no Brasil, diz que tudo começou na infância e na brincadeira, na frente de uma escrivaninha, onde passava horas desenhando e criando. Anos mais tarde, na adolescência, a criança que vivia dentro de Cusco continuou desejante e prosseguiu criando, agora em shapes e rampas, Skate e até paredes. Até que, certo dia, um amigo decidiu abrir uma loja e chamou Rebel e seus outros colegas artistas para pintar a fachada do estabelecimento, ‘’vocês já ouviram falar do Graffitti?’’, e foi então que o artista começou a estudar a técnica que construiria sua história posteriormente.

Depois da loja de seu amigo, o trabalho de Cusco e seus colegas começou a tomar vida e as pessoas prendiam sua atenção ali, ‘’acabamos fazendo salão de beleza, loja de móveis, pet shops, padarias e, sem querer, isso se tornou um trabalho para mim’’. O artista conta que chegou em Porto Alegre – cidade onde nasceu e residiu por muitos anos – e a arte virou seu ofício despretensiosamente. De repente era então, artista.

Créditos: Davi Ferrini

Além de desenhar, Cusco carrega outra paixão: o skate, ‘’até hoje, é uma atividade que me inspira muito porque foi através da cultura do skate que aprendi a não desistir e sempre continuar tentando até acertar’’. Deste modo, o artista pontua uma coisa importante, o diálogo entre as artes. Foi através dos ensinamentos do skate que o artista cresceu nas suas obras, absorvendo a filosofia e olhar criativo sobre a arquitetura das cidades, saiu de sua zona de conforto e foi capaz de se aventurar em novas técnicas e aprender coisas novas.

O NFT é uma das técnicas que o artista se aventurou, inclusive em parceria com a Dionisio, “foi uma loucura, unimos um processo de reprodução que é a serigrafia para criar peças únicas’’. O projeto contou com cinquenta peças personalizadas físicas e em formato digital. “Adorei fazer esse trabalho justamente por unir duas coisas: o NFT e a obra física, que é algo mais cômodo para mim”, explica.

Cusco, como a maioria dos artistas que sentem na veia a necessidade e o desejo de comunicar, faz de suas obras um meio para transmitir suas mensagens. ‘’Hoje, para mim, a arte é verbo. Depois que a arte passou a ser democratizada e tem sido mais acessível para que os artistas possam usufruir dela, acredito que ela tem um poder de cura’’, comenta, ‘’acho que quando as pessoas se sentirem livres para criar o mundo será um lugar melhor’’.

Pensando em como poderia contribuir ativamente para que a arte se tornasse uma atividade cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, Rebel acredita na prática ativa do fazer artístico e, portanto, isto deve ser estimulado, ‘’acredito que a arte terá o poder de cura quando as pessoas se envolverem ativamente com o processo e não se contentarem com o papel de espectadores’’. Por isso, Cusco já participou de diversos workshops, onde desafiou as pessoas do ambiente corporativo a botarem a mão na massa com a proposta de ampliar a visão, alimentar a simbologia por trás do olhar e ressignificar as coisas.

O artista também fala um pouco sobre os elementos presentes em sua arte, como por exemplo, caveira e o barco de papel amarrado em uma nuvem. A primeira significa, para Cusco, um símbolo de igualdade, ‘’acho esse simbolismo muito interessante neste momento em que vivemos, em que buscamos valorizar a diversidade e a igualdade, porque no fundo, somos todos iguais”, explica Rebel. Além disso, o artista usa desse símbolo para representar o ciclo da morte, ‘’faz parte do processo de viver’’.

Créditos: Cusco Rebel

Já o segundo símbolo, o barquinho com as nuvens, Cusco propõe trazer o lúdico para o real, ‘’esse desenho traz para mim o grande poder que a arte tem de subverter a realidade’’. Ao criar uma imagem que soa impossível na materialidade, o artista brinca com a noção de limite e propõe, de uma forma sutil, mostrar que a fronteira entre real e imaginário se desfaz através da arte, ‘’como artista, eu quero passar coisas boas; mensagens boas’’, complementa.

Créditos: Cusco Rebel
Para o artista, a sua dose de arte está na córnea de seu olhar, ‘’vejo arte quando saio na rua para levar a minha filha à escola, quando vejo um graffitti novo, texturas… tudo me inspira. Vejo a rua como uma infinita possibilidade para criar. Minha dose de arte é vinte e quatro horas por dia’’, no entanto, apesar de ser ludibriado por vários estímulos, o artista se manteve fiel ao menino na frente de sua escrivaninha e seu refúgio do mundo continua sendo ali, no papel, no rabisco e no desenho.

Para conhecer mais os trabalhos de Cusco, clique aqui. E fiquem ligados no perfil da Dionisio porque jaja soltaremos o vídeo da entrevista completa!

Por Patrícia Mamede

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