Entrevista: Flávia Braun – ‘’Eu sempre brinco que eu não sei se sou uma artista que faz ativismo ou uma ativista que faz arte’’

Artista utiliza a arte enquanto ferramenta para despertar um novo olhar diante da natureza e dos animais

Por Patrícia Mamede

Flávia Braun, artista visual, conta que sua paixão pela arte se desenvolveu de forma intuitiva e natural. Como muitos artistas, desde muito nova carregava dentro de si um deslumbramento pelo desenho e, especialmente, figuras de animais e da natureza, um amor que, conta ela, só cresceu conforme os anos se passaram.

Apesar de sua forte inclinação para a arte, Braun conta que em sua família, ser artista não era uma possibilidade clara e, assim como muitos que se aventuram no desconhecido universo da arte, conta que não sabia das frentes possíveis de atuação dentro desse mundo, pois as opções que lhes foram apresentadas eram sempre as clássicas, como medicina ou direito, ‘’Eu nem sabia que existia um curso ou uma faculdade para formar artistas’’, pontua.

Aos vinte e um anos, Braun conseguiu uma bolsa de estudos em uma faculdade em Miami, nos Estados Unidos, e foi para lá com o objetivo de estudar desenho gráfico. Mas em sua primeira aula dentro da instituição, o sinal tocou e a sala foi esvaziando e Flávia, imersa no universo de seus desenhos, continuou concentrada ali, sem pretensão de sair. O professor se aproximou e perguntou qual era o curso que ela estava fazendo, ‘’Desenho gráfico’’, respondeu. O professor notou as marcas de carvão e de caneta estampadas nas roupas de Flávia e objetou, ‘’Não. Você é artista’’, disse.

O professor se ofereceu a levar a aluna até a diretoria a fim de bater um papo e lhe sugerir trocar de curso para o de Artes Visuais, ‘’E aí eu me apaixonei e tive a certeza de que era isso o que queria fazer da minha vida’’. Porém, a artista conta que sua escolha foi angustiante para seus pais na época, no entanto conseguiu assegurá-los quando lhes mostrou as várias frentes em que poderia atuar como, por exemplo, lecionar, trabalhar com curadoria de artistas, ‘’Mas obviamente, o que eu queria mesmo era viver da minha arte’’, contesta.

ATIVISMO E ARTE

Em sua biografia, Flávia faz o uso de um termo curioso: artivismo, que seria a união entre o fazer artístico com uma causa social e/ou ambiental, ‘’Eu sempre brinco que eu não sei se sou uma artista que faz ativismo ou uma ativista que faz arte’’. Quando pequena, estava em uma churrascaria e um garçom se aproximou com uma espada cheia de corações de galinha. Flavia perguntou o que era aquele alimento e da onde ele vinha, ‘’É coração de galinha’’, respondeu o garçom. Ela começou a contar quantos animais estavam atravessados naquela lança. Matei, disse a si mesma.

Desde então, introduziu o veganismo em sua alimentação e em suas práticas pessoais e busca, em seus trabalhos, trazer a pauta à luz, enfatizando que essas são coisas inseparáveis em sua vida: a arte e sua paixão pelos animais. Dessa forma, estampa em suas telas esse desejo por um mundo mais justo e livre de crueldade animal.

Quem não conhece as obras de Braun, pode pensar que seus trabalhos são densos e inquietantes, já que eles partem de uma realidade cruel que acontece. No entanto, ela propõe uma subversão ao observador. Através de cores vivas, divertidas e, muitas vezes, neon, Flávia dá destaque ao que há de belo nos animais e da natureza como um todo, desafiando o telespectador a desenvolver uma outra perspectiva.

Enquanto ativista, Braun realiza diversos eventos, colabora com ONGs, vende rifas e atua em trabalhos voluntários voltados para a causa animal. A artista tem, como principal objetivo em sua arte, trazer consciência para as pessoas sobre seus modelos de consumo a fim de modificar a percepção dos telespectadores sobre o modelo atual que vivemos, ‘’Não temos um Planeta B, não dá para a gente achar que vamos para Marte e vai dar tudo certo. Realmente temos que cuidar da nossa casa’’, argumenta.

NOS PEQUENOS DETALHES

Diante desta bandeira que a artista carrega e transpõe em sua arte, ela conta que certas adversidades podem dificultar o desenvolvimento de sua carreira, como por exemplo, a escolha na hora de aceitar alguns trabalhos. Ela diz que o maior conflito de ser ativista no mundo da arte é manter a sua integridade na hora que recebe propostas comerciais e oportunidades de trabalho no geral, ‘’Ao mesmo tempo que eu quero que meu trabalho seja mais visto, mais ouvido, mais amplo, às vezes tenho que dizer não para algumas coisas por conta dos valores com os quais eu trabalho’’.

Por isso, a artista sempre opta por trabalhar em parceria com empresas e marcas de acordo com aquilo que vive e acredita. No entanto, com o movimento atual de práticas ESG e de sustentabilidade crescendo cada vez mais, Braun se tranquiliza e acredita que esses ideais estão cada vez mais presentes e serão cada vez mais valorizados.

Aplicar o veganismo vai muito além de restringir um cardápio. As pessoas que se comprometem com a causa estão sempre atentas ao seu modo geral de consumo: vestimenta, produtos e todo o resto, tomando cuidado para que não haja nada de origem animal no desenvolvimento dos materiais. Por isso, na maioria das vezes, Flavia opta pela tinta acrílica, pois ela é quase sempre vegana. Já a tinta a óleo é mais difícil de achar em determinados pigmentos, como por exemplo, o vermelho e o preto.

Deste modo, Braun sempre pesquisa antes de fazer o uso de um material para ter certeza de que sua procedência não é de origem animal. E, além das cores, seus pincéis são todos livres de crueldade, ‘’Todos os meus pincéis são de cerda sintética’’, assegura.

A ARTE E O MUNDO DOS ARTISTAS

Muitos artistas, ao dar início aos seus processos criativos, experimentam uma sensação de completa imersão e relatam sentir uma espécie de transe através dos processos artísticos. Braun diz que ela, também, sente isso quando está pintando, ‘’É que nem aquele filme da Pixar, Soul. Você entra em uma bolha da criatividade e vai para outra dimensão, outro planeta’’, relata ela. A pintura é, portanto, o meio que a artista encontrou de esvaziar a sua mente, ‘’Eu me desconecto de tudo e a minha linguagem se torna as cores’’. A artista diz que a sua DOSE DE ARTE está na observação da natureza e dos animais e conta que passa grande parte de seu tempo assistindo ao Animal Planet, ‘’A pintura me inspira muito, mas a própria pesquisa também’’.

Se você quiser conhecer mais o trabalho de Flavia Braun, clique aqui, e fique ligado no perfil da Dionisio.AG que, em breve, sairá trechos dessa entrevista!

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