Artista propõe o divertimento através da arte e fala sobre a importância de valorizar as primeiras vezes na maturidade
Por Patrícia Mamede
“Olhamos o mundo uma vez só, na infância. O resto é lembrança.” A frase da poetisa norte-americana Louise Glück poderia facilmente resumir o trabalho e a filosofia de vida do brasileiro Guilherme da Matta, designer gráfico, estudante de animação e entusiasta do desenho.
Sua paixão pelas artes começou cedo, ainda na infância, entre manobras de skate, traços de spray e, principalmente, nas horas passadas no ateliê do avô, o primeiro artista da família. Foi ali que Guilherme descobriu a magia da criação e o poder da brincadeira. “Meu avô me mostrou um monte de possibilidades”, relembra. Entre elas, a possibilidade de viver da arte, algo que, até então, ele nunca havia considerado possível.
Desde então, o encantamento não o deixou mais, “Quando eu perder esse lance de me divertir com a parada, acho que para de fazer sentido”. Como toda criança que convida os amigos para descer à quadra e brincar, Guilherme também quer companhia nessa jornada e, por isso, um dos maiores objetivos de seu trabalho é compartilhar a diversão.
“A proposta do meu trabalho é que as pessoas se divirtam também”.
Com traços marcantes e uma paleta vibrante, suas ilustrações passeiam por personagens, letras e situações descontraídas. As cores, segundo ele, ganharam força com experiências vividas nos últimos anos, especialmente na faculdade de design gráfico. “Foi ali que aprendi a encaixar cor e forma”, explica.
O ambiente acadêmico também o ajudou a enxergar seu próprio trabalho sob uma nova perspectiva, “O que trouxe bastante cor para dentro do meu trabalho foram experiências que eu vivi, coisas que aconteceram nos últimos anos mas, especialmente, a faculdade de design gráfico”, onde o artista aprendeu a encaixar cor e forma”.
Guilherme aponta como muitos enxergam títulos como “artista”, “fotógrafo” ou “ilustrador” apenas como um ponto de chegada, sem considerar o caminho que leva até ali, “[As pessoas] não observam o caminho disso tudo, e que é o mais importante”. Para ele, criar é mais sobre o processo do que sobre o produto final. “A experimentação talvez seja mais importante do que a conclusão, a venda, a conversão”, e por isso, fazer coisas novas é o que me mostra que ele está no caminho certo.
Ao reunir suas referências pessoais com os conhecimentos técnicos adquiridos no design e na animação, Guilherme experimenta diferentes formatos para dar vida à sua arte. Ele já criou quebra-cabeças, estampou camisetas, fez parcerias com marcas e também encarou o desafio de ilustrar capas de discos. Mas, independentemente do formato, todas as criações compartilham a mesma origem, o espírito da infância.
Fiel às suas raízes, o artista mantém até hoje um hábito curioso, inicia todas as suas obras usando o mouse, como fazia ainda criança, brincando no programa de computador Paint. A revelação surpreende muitos de seus seguidores, mas para ele é uma forma de preservar a essência de suas primeiras descobertas criativas.
Comprometido com o encantamento das primeiras vezes, Guilherme quer que sua arte desperte nos outros a mesma sensação que carrega consigo: a de lembrar. “Cada um vai ter uma interpretação da parada, mas [eu queria que], de alguma forma, [através da minha arte] as pessoas valorizassem o que é vivido pela primeira vez depois que isso para de fazer sentido na vida […] Com o meu trabalho eu gostaria que isso fosse lembrado. Que a gente olhasse para trás e saísse um pouco da rotina, da correria, da loucura, do estresse, do burnout e pensasse um pouco das coisas que você viveu, de coisas importantes que você vive todo dia”.
Se quiser conhecer mais do trabalho de Guilherme da Matta, clique aqui, entre na brincadeira e se divirta!
[Imagens por Guilherme da Matta: Jazz Duo, 2024; Collab com Cryptorastas, 2022; tiny troublemakers, 2025; Messy gang, 25]