Uma das maiores autoridades brasileiras nas áreas de marketing em agronegócio, gestão de vendas, liderança, motivação e superação humana, Professor Tejon, como é comumente chamado, devido à dedicação à formação de pessoas, é um entusiasta do marketing com viés estratégico.
José Tejon é considerado uma das 100 personalidades do agronegócio pela Revista IstoÉ Dinheiro, Doutor em Educação, Mestre em Educação, Arte e História da Cultura, jornalista, publicitário, professor e autor. Possui especializações em Harvard, MIT, Pace University – EUA e Insead – França.
Com essas e muitas outras credenciais, e uma história de vida para lá de inspiradora, Tejon conversou conosco, como membro do Hall da Fama da Abramark, e respondeu as nossas cinco perguntas. Confira!
Abramark – Como autoridade relacionada aos agronegócios no Brasil, como avalia o momento do País no setor? O “pós-pandemia” é favorável para o Brasil nesse mercado tão importante?
JLT – Temos uma oportunidade de ouro, ou melhor, do que vale mais do que ouro na vida da humanidade, do alimento, pois o planeta pede mais produção de alimentos no enfrentamento das disruptivas da logística, dos estoques e das desconexões do clássico supply chain. Mas sempre dependerá da nossa competência de gestão. Como escreveu Peter Drucker: “não existe país subdesenvolvido, existe país subadministrado.”
Abramark – A guerra na Ucrânia tem impactado muito alguns custos de grãos e cereais. Acha que os players mundiais poderão contornar essa situação e evitar a escassez?
JLT – Os custos já explodiram antes da guerra. A guerra acentuou o risco da escassez. Uma saca de milho custava R$27,00, agora custa de R$80,00 para mais. Uma saca de soja custava R$ 70,00, agora supera R$150,00… Ou seja, grosso modo, tudo dobrou de preço. E a única fórmula para combater a inflação e diminuir uma potencial crise de escassez é aumentar a produção. Não tem outra magia. E dentre os players mundiais com condições de dobrar de tamanho sem arrancar uma só árvore está o nosso Brasil. Mas para isso precisamos de um planejamento, de um plano safra, não mais como os anteriores, mas como o ex-ministro Roberto Rodrigues pede: “um plano safra de guerra”.
Abramark – Vivemos dias de forte polarização político-ideológica. O senhor acha que o marketing pode ser usado para suavizar essas questões e trazer luz a um debate mais racional e produtivo? Como?
JLT – A polarização ideológica que está presente no mundo, traz para a segunda década do século XXI discussões sobre ideologias velhas que já foram enterradas no passado. O nazifascismo se suicidando num bunker na Alemanha, em 1945, e o comunismo caindo com o Muro de Berlim, em 1989.
Quando falamos do marketing dentro da concepção ética do mesmo, marketing estratégico como o concebemos nas academias sérias e como o temos aqui na Abramark e quando o conectamos aos fundamentos contemporâneos do novo agribusiness , redefinido por Ray Goldberg, em Harvard, como sendo um “food citizenship”, sem dúvida esse marketing é vital e fundamental pois na luta pelas percepções humanas representa a possibilidade da vitória da lucidez, da sensatez e das forças criadoras acima do caos destruidor. E no campo do alimento, energia, fibras, meio ambiente, ESG, capitalismo consciente e as espetaculares cooperativas , o marketing ético faz parte e ali precisa ser administrado com conhecimento profundo dessa arte.
Abramark – O senhor virou uma referência em motivação e superação, devido à sua história de vida. Afinal, como usou, de alguma forma, as adversidades e obstáculos a seu favor?
JLT – Quanto maiores os obstáculos, se os enfrentarmos com bons aliados, sairemos deles muito mais fortes do que antes. Isso está no meu último livro “O poder do Incômodo“, Editora Gente. O mundo é imperfeito. Não é perfeito. Perfeição não existe. Por isso, quando realizamos que vivemos em estados imperfeitos, ao invés de entrarmos num modo de acusações, reclamações e de vitimização, muito ao contrário, vibramos felizes, pois descobrimos que temos uma missão espetacular na Terra: aperfeiçoar as imperfeições. Isso para mim é sinônimo de amor: aperfeiçoar o imperfeito. E começa com cada um de nós… E o que seria então o legítimo marketing? Compreender num design thinking todos os fatores incontroláveis, controláveis, os sonhos, desejos, angústias, necessidades humanas já percebidas ou ao contrário ainda não percebidas, transformando-as em realidades acessíveis. Quer dizer, administração desse nosso marketing é um aperfeiçoamento eterno das estruturas com as quais vivemos.
Vale para tudo. E valeu muito para minha vida, quando menino com uma queimadura facial grave ouvia do meu pai adotivo, um português de Trás-os-Montes que dizia: “filho não tenhas vergonha da tua cara, tenhas vergonha na cara“. Muito obrigado, velho pai Antônio Alves, de Portugal.
Sem dúvida essa queimadura me fez ser quem eu jamais teria sido sem ela. Porém, não conseguimos sozinhos. Precisamos de bons aliados, grandes amigos. E eles existem.
Abramark – Deixe um recado para os profissionais e estudantes de marketing e na comunicação, que veem seu exemplo de superação e reconhecimento como um motivo a mais para seguir em frente.
JLT – Jovens, pelo amor de Deus. Sirvam-se dos textos de Madia, Cobra, Raimar Richers, Francisco Gracioso, de Peter Drucker, Kotler, Levitt, outras e outros gigantes profissionais e educadores do que marketing de verdade é. Não confundam marketing estratégico com o operacional, e muito menos, jamais usem o nome “marketing” para associá-lo ao marketing político. Aquilo ali é propaganda política, diferente. Eleve a autoestima dos profissionais de marketing, e caia fora dos “marqueteiros”.
Marketing está acima do que chamamos de serviços de marketing, como na moda agora o digital. Você só fará marketing digital se estiver numa companhia de produtos digitais, caso contrário, é comunicação digital e descubra logo que uma mídia nunca matou a outra, só a aperfeiçoou. Marketing significa auscultar sonhos, desejos, angústias já percebidas ou não dos cidadãos com ou sem fins lucrativos, e atuar nessas entregas desde a concepção das tecnologias, nos processos, na industrialização, na descarbonização, nos modelos inovadores de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) das categorias etc. Marketing é a mais fascinante de todas as atividades administrativas do mundo. Reunimos exatas, biológicas, humanas e vida com dignidade na sua construção .
Marketing pode estar presente no meu “sapateiro engraxate“ da praça da igreja de Moema em São Paulo (SP), na Apae, nas batatas da Pepsico, na Coca-Cola , nos motores MWM , na carne suína da ABCS, na cooperativa Aurora, no Sicredi, na filantropia ou no Hospital do Câncer, desde que ético, serve para tudo, até para elevar um país, como o Brasil, à condição de potência agroalimentar e ambiental do mundo e a uma linda e única sociedade tropical feita de todas as raças, no cinturão tropical deste planetinha Terra…
Leia o artigo de Tejon: Marketing, a “alma“ do agribusiness
Leia o artigo de Tejon: A propaganda que ganhou a guerra
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