O artista conta sobre os símbolos femininos e africanos presentes em suas obras e fala sobre relutância em encarar o título de artista
Formado em desenho industrial, Negritoo, um dos grandes nomes da arte no Brasil, iniciou seu caminho como designer gráfico, trabalhando mais de vinte anos na área. Nascido em São Paulo, sua paixão pela arte começou desde pequeno, dentro de casa, “eu sempre soube que eu queria trabalhar com desenho”, e assim, foi dos cadernos para o mundo. Com traços lúdicos, repletos de referências pop e imagens figurativas originais, estabelece uma conexão quase instantânea com o público.
Por sua trajetória ter se iniciado no design, Negritoo diz que lutou contra uma certa resistência para vestir o título de ‘artista’, “antes, era algo muito distante para mim”. Em 2017, após ter participado do Art Battle Brasil, ao se ver nas chamadas e ouvir as pessoas nos eventos se referindo a ele com este termo, enfim assumiu o título. O artista conta que, após sustentar o peso da palavra, acabou encarando mais o que faz e incorporou em si o sentido de ser artista, o que, consequentemente, agrega mais valor simbólico ao seu trabalho.
Ao se deparar com as obras de Negritoo, é perceptível a recorrência da presença feminina em sua arte. Ele diz que sempre gostou muito de ler história em quadrinhos, mas que os universos eram lotados de personagens masculinos, então começou a treinar desenhar figuras femininas, e descobriu que esse processo também fazia alusão à sua história na infância. “Minha mãe se separou muito cedo e enquanto ela trabalhava, eu ficava na casa da minha avó junto com as minhas tias”, rodeado pela presença de mulheres, o artista se coloca em sua arte, esboçando de maneira sutil uma parte de sua história. Além da forte representação feminina, Negritoo também busca enfatizar a cultura africana, ilustrando seus símbolos e riquezas.
Por esse apreço às histórias em quadrinho, o artista diz que sempre carregou o sonho de poder trabalhar com algo que envolvesse este mundo. Através da Dionisio.AG, ele foi convidado a participar d’O Poder é Nosso, da Marvel, retratando o personagem de Pantera Negra, concretizando este seu desejo de infância, “vou levar este projeto com um carinho especial para o resto da vida”.
No mundo do trabalho, Negritoo fala sobre certos desafios que enfrenta na hora de ter que conversar com o mundo da arte. O artista pontua sobre os limites que se impõe através dessa relação, entre a arte e suas infinitas possibilidades com aquilo que deve– ou pode– ser entregue, “na arte tudo é possível. Quando você a leva para o mundo profissional e corporativo, você encontra alguns limites e isso é o mais complicado”. Seja pelo perfil do cliente ou do trabalho, cria-se um impasse diante dessa liberdade absoluta que a arte possibilita. O desafio, para ele, consiste em não deixar a essência se esvair ao realizar o trabalho.
O artista busca, através de sua arte, se expressar de maneira geral e compartilhar as raízes de sua cultura com as pessoas. Para ele, a arte se coloca no lugar central da expressão de desejos, sonhos e pensamentos, sempre levando uma mensagem para quem a consome, visando levar reflexões para o maior número de pessoas possíveis. Mais do que isso, a arte, para Negritoo, está na sua relação com o mundo, se mostrando incapaz de ser apenas um recorte de sua existência, “tudo é referência”. Por isso, mais um artista está aí para retratar a “alma criativa”, que consiste em uma poética aplicada em tudo o cerca, atravessando as banalidades e transformando tudo aquilo que vê e toca.
Se quiser saber mais sobre o artista e suas obras, clique aqui e conheça seu trabalho. Neste link, você poderá ver um dos trabalhos que Negritoo fez com a Dionisio.AG em parceria com a Veloe.
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