Thiago Bacchin, CEO da Cadastra, fala sobre o novo comportamento de consumo das empresas
No marketing, por exemplo, grandes anunciantes optaram, por vezes, construir suas houses. Era a eterna discussão do trabalho com agências de propaganda versus in houses. A potencial redução de custos colocava em risco a capacidade criativa e de inovação da marca. Mas essa lógica de terceirizar ou ter tudo em casa, não faz mais sentido.
Se antigamente departamentos de marketing, trade, comercial e etc., funcionavam isolados e com foco em vender os produtos da empresa — hoje, numa realidade em que o digital mudou todas as regras do jogo e se tornou o fio condutor da estratégia da companhia, esse cenário exige a profundidade e a proximidade de times internos, com a altíssima especialização de times externos, formando um só grande time híbrido.
O digital renovou a forma de pensar e agir; trouxe tecnologias antes inexistentes, que obrigam dados a serem centralizados e processos interligados pela automação. A digitalização passa por todas as áreas de uma empresa, direcionando a estratégia central da marca para o consumidor, que está no centro de tudo. Ou seja, exige muito mais de todas as áreas de uma companhia.
É necessário encarar os fatos: essa reconstrução estratégica e operacional demanda não só mais “cabeças pensantes” mas também novas “cabeças operantes” em um mundo invadido por novas disciplinas oriundas das transformações que vivemos.
As marcas na nova era digital
Como as marcas irão absorver conhecimentos de disciplinas como e-commerce, consumer journey, marketplace, data modelling e programática, para estarem presentes em suas novas estratégias de negócios? E como serão líderes, nos seus segmentos, nas estratégias e operações de SEO, CRM, digital analytics, mídia e mesa de performance, trade marketing digital e tantas outras?
Não bastasse a complexidade do momento, todas essas áreas – e muitas outras – são extremamente carentes de profissionais capacitados no mercado.
Nestes mais de 25 anos que a Internet chegou ao Brasil, criou-se uma grande disparidade de maturidade digital entre as empresas de todos os segmentos. Em paralelo ao avanço da tecnologia, o consumidor também passou a exigir muito mais das marcas nos âmbitos sociais e ambientais.
Avançar na maturidade digital de uma empresa não é simplesmente abrir dezenas ou centenas de vagas de profissionais da era digital. Pelo contrário, a mudança começa por dentro: treinar e desenvolver a força de trabalho que a empresa já possui.
Nesse processo, todos precisamos reaprender a aprender. O mercado de trabalho cada vez mais vai exigir desenvolvimento e aprendizado contínuo.
Com a experiência de quem vive isso há mais de 20 anos, a evolução da maturidade digital das empresas só acontece com a renovação do conhecimento do time atual, e com o crescimento orgânico de times com conhecimentos em muitas dessas novas disciplinas digitais. Esse equilíbrio é fundamental e depende do momento de cada empresa.
Porém, um erro neste caminho da digitalização é a marca deixar de focar no seu propósito para pensar que está numa corrida sem fim pelo inexistente título de “a mais tech” do momento. Tudo que tira o foco do consumidor no centro das estratégias, vai contra esse objetivo.
Por exemplo, marcas de moda devem preocupar-se mais com a sustentabilidade social da sua cadeia produtiva e o poder do impacto de uma crise de imagem perante seus clientes, do que colocar energia em desenvolver uma plataforma de e-commerce ou operar internamente boa parte das disciplinas digitais complexas e densas. Isso não é digitalizar a empresa, é perder o foco e perder performance.
Entretanto, as empresas precisam não apenas entender, mas participar da concepção das estratégias e da execução de projetos e processos de uma nova realidade digitalizada. A transformação digital acontece de dentro para fora.
Dizem por aí que a união faz a força, mas é necessário ir além: a união traz possibilidades. Vivemos num período de transformações constantes, em que as áreas corporativas estão cada vez mais híbridas. E a pandemia consolidou uma nova realidade: times de trabalho não serão apenas cada vez mais híbridos, mas também parcialmente remotos.
Lembre-se: o digital se tornou core. Invista em desenvolvimento contínuo dos times atuais; traga novos talentos nativos digitais e trabalhe com os melhores parceiros experts de transformação digital.
Marketing é sobre pessoas
Para Abel Reis, cofundador da Logun Ventures, o marketing como um modo de dar sentido a vida das pessoas. “Não enxergo o marketing como uma ferramenta de venda ou divulgação e construção de marcas, embora seja tudo isso. O que me seduziu no marketing foi a possibilidade de tocar corações e mentes através de ferramentas imersivas, é o que as tecnologias digitais proporcionam hoje”, diz.
O futuro do marketing
A grande questão de Abel para o futuro do marketing é a qualidade do relacionamento entre tecnologia e pessoas. “Naturalmente, há uma tentação a delegar à tecnologia papéis que são humanos e não podem ser substituídos, como a paixão e comprometimento, por exemplo. Creio que viveremos décadas de inovação tecnológica entre consumidores e negócios”. Embora essa mudança esteja cada vez mais próxima, é fundamental que a sociedade compreenda o papel da inteligência artificial na vida das pessoas. “Não tenho respostas, mas espero fazer parte disso”, finaliza.